quarta-feira, 29 de julho de 2015

A chegada de Diego MARADONA ao Napoli


O dia em que Maradona começou a virar o D10S de Nápoles

Fonte: UOL 
Verão europeu de 1984. Após o fim da temporada 1983-84, tudo o que o Napoli queria era esquecer a fracassada temporada anterior, onde brigara contra o rebaixamento até a penúltima rodada quando venceu a Udinese de Zico. O time era comandado por Gianni De Rosa, o eterno ídolo Giuseppe Bruscolotti e tinha como estrangeiros o holandês Ruud Krol e o brasileiro Dirceu, o popular "Dirceuzinho", integrante das seleções brasileiras de 1978 e 1982. Sua última boa temporada tinha sido em 1981-82, quando ficou em 4º lugar e se classificou para a Copa da UEFA.

Em meio ao boom de estrangeiros na Serie A, o estrangeiro especulado no Napoli era o então corintiano Sócrates, que mais tarde iria para a Fiorentina. Em meio à grande quantidade de craques na Itália, todos falavam: "só falta Maradona". E onde estava Maradona? 

Maradona estava em crise no Barcelona, onde já estava em processo de litígio entre suas lesões recentes e a memorável briga na decisão da Copa do Rei entre Barcelona e Athletic Bilbao no Camp Nou. Ele reclamava dos zagueiros "carniceiros" do futebol espanhol, como Andoni Goikoetxea, do próprio Athletic, que chegou a provocar uma lesão sua no mesmo ano. Reclamava da infelicidade com o Barcelona. E queria jogar no futebol italiano. Especulou-se Diego na então campeã Juventus de Platini, na Udinese de Zico, e até na Roma de Falcão e na Inter de Rummenigge. Até que apareceu a ideia de Diego Maradona no Napoli.

Mas, espere, Maradona no Napoli? Isso só pode ser coisa da Camorra... Sim, isso era mais ou menos o que muita gente no mundo pensava sobre o Napoli no começo dos anos 80. No próprio acervo digital da Folha de São Paulo você pode ver que, a cada 10 matérias da negociação e as especulações entre Napoli e Maradona, 5 continham a história da Camorra. Além dos claros problemas sociais de Nápoles que conhecemos.

A novela começara no fim de maio de 1984, quando Maradona começara a forçar sua saída do clube catalão. Em meio a isso tudo, Maradona chegou até a jogar um torneio nos EUA pelo Barça, fazendo sua despedida contra o Fluminense  (!!!). Maradona queria sair, mas o Barcelona não queria deixar, o que fez as negociações serem paralisadas por duas vezes na ocasião. O jogo duro do Barcelona era tão grande que o Napoli cogitou o inglês Glenn Hoddle, do Tottenham, e o mexicano Hugo Sánchez, do Atlético de Madrid. 

O presidente do Barcelona, José Nuñez, negou até quando pode a venda, ameaçou multar Maradona e não vender seu passe, enquanto o Napoli ameaçou processar o Barcelona por não vendê-lo. Faltando 24 horas para o mercado se fechar para estrangeiros, os catalães chegaram a declarar que Diego não estava à venda. De imediato, a torcida foi quebrar tudo (literalmente) nos arredores do consulado espanhol em Nápoles. Mas em seguida, era noticiado pela RAI e pelas televisões locais que as negociações haviam recomeçado. Por trás das cenas, Maradona chegou a dizer que pararia de jogar futebol se não deixasse o Barcelona.
A chegada do craque


Até que em 30 de junho, tudo aconteceu. Veio a virada. A compra do século, a vingança contra os rivais. A festa nas ruas era como a de um título. Aquele que, para muitos, já era o melhor jogador do mundo iria jogar no Napoli. Todas as preces a San Gennaro foram atendidas. Diz a lenda que Corrado Ferlaino, na época, teria depositado na federação italiana um envelope vazio. Era onde deveria estar o contrato do jogador para ser registrado logo. Era o que ele precisava para levantar dinheiro e pagar o Barcelona. Politicamente, Ferlaino também fez uma manobra política, pedindo ajuda do prefeito de Nápoles na ocasião para conseguir o empréstimo junto ao Banco de Roma e levantar o dinheiro.

A contratação fora criticada por alguns intelectuais à época. Por que raios pagar 7,5 milhões de dólares (13 bilhões de liras, moeda italiana na época) em um jogador? Estes intelectuais criticavam porque se pagava tanto por um jogador, e não às vítimas de terremotos na Itália, e se criticava que "em vez de lutar por Maradona, deveria-se lutar por prêmios Nobel para a Itália".

E o torcedor azzurro com isso? Nem aí. Ele só queria festejar. Naquela época, a empolgação era tão grande que nas duas semanas que antecederam a contratação, 120 bebês foram batizados com o nome de Diego Maradona. Discos de "Tifosi Innamurato" e os compactos com "Tango a Dieguito" e "Inno a Maradona" vendiam como água. A mania era tão grande que tudo que pertencia a ele era vendido - de bonecos a camisas do Napoli. Até as apostas na loteria com o número 10 cresciam, e as edições da Gazzetta dello Sport vendiam como água. Enquanto isso, a peregrinação dos partenopei em frente às imagens de San Gennaro era grande. A contratação dele era como um milagre para muitos.

Maradona foi recebido duas vezes no aeroporto - no de Roma e em Nápoles -, mas faltava a apresentação. Inicialmente foi planejada uma descida de helicóptero de Diego no gramado. Mas naquele mágico 5 de julho de 1984, como um jogador qualquer, Diego subiu ao gramado pelas escadas, enquanto as 70 mil pessoas presentes naquele dia no San Paolo (a maior apresentação de um jogador na história). Recebido no gramado por ídolos da torcida como Omar Sívori e Antonio Juliano, enquanto a torcida cantava os hits de Maradona, ele fez seus malabarismos com a bola e declarou, sem entender nada, como declarou anos mais tarde, "Buonasera, napoletani. Sono molto felice di essere con voi".

Na coletiva de imprensa, voltaram as indagações sobre a máfia napolitana. Isso enfureceu justamente Corrado Ferlaino, que era sobrinho de um promotor que perdera a vida por conta da própria máfia. "Nápoles é uma cidade que produz, é uma cidade de gente de bem. Defendo nesta sede, Nápoles e os napolitanos. Quanto à Camorra, existe uma polícia séria. Não podemos aceitar esta pergunta", disse, antes de expulsar um repórter francês que insistia na relação.

A paixão por Diego e pelo Napoli se tornou tão grande que 40 mil carnês de sócio foram vendidos nas primeiras horas. Só a venda desses carnês para a temporada 1984-85 já pagou o passe de Maradona junto ao Barcelona, de 7,5 milhões de dólares. O Napoli na época também contratou um argentino para ser seu companheiro. Era Daniel Bertoni, da Fiorentina. Mas o único destaque era mesmo Maradona, a maior contratação do futebol mundial na década.

Uma contratação que viria a ser ainda mais histórica com o tempo. Capítulos que serão relembrados nesse blog em breve.

Reprodução: La Gazzetta dello Sport
"E amanhã, o rei Maradona desembarca na sua Nápoles". Era assim a capa da Gazzetta após a chegada de Maradona.

MARADONA NO NAPOLI, UM REI
Fonte: Wikipedia 

Napoli

Embora tradicional, a equipe napolitana era minúscula. Seus troféus resumiam-se a títulos nas divisões inferiores e a duas conquistas na Copa da Itália . Maradona foi logo amado e venerado como um rei, chegando de helicóptero a um Estádio San Paolo  tomado por torcedores que ainda custavam a acreditar. Ele, curiosamente, poderia ter chegado antes ao time: o clube o havia sondado em 1979, quando ainda estava no Argentinos Juniors , mas ele recusara a proposta na época. "Para mim, Napoli era apenas uma coisa italiana, como pizza  ", comentou.
O espanto foi geral: a equipe mais vencedora do país, a Juventus, também estaria interessada, de acordo com a imprensa. Maradona terminou por escolher o clube celeste porque "foi o único a me fazer uma proposta real e porque o Giampiero Boniperti , ex-jogador e presidente da Juventus na época, já havia dito que um jogador com meu porte físico não chegaria a lugar algum". De acordo com as lendas, o presidente do Napoli, Corrado Ferlaini, teria blefado: depositou na federação italiana um envelope vazio, onde deveria estar o contrato do jogador, a fim de registrá-lo logo. Era o que ele precisava para ganhar tempo, enquanto a manobra era descoberta, para levantar o dinheiro para pagar o Barcelona.
Cquote1.svg Fiz o que me recomendaram: falei "Buonasera, napoletani. Sono molto felice di essere con voi." e chutei a bola nas arquibancadas. Eles deliravam e eu não entendia nada  Cquote2.svg
Maradona, sobre sua chegada apoteótica ao estádio do Napoli
Na primeira temporada, o clube ficou apenas em oitavo, mas somente dez pontos atrás do campeão Verona . Na segunda, a de 1985–86, conseguiu um terceiro lugar. Sua terceira temporada começou com ele já consagrado em todo o planeta, com a conquista da Copa do Mundo de 1986 . Em setembro, porém, surge a primeira grande polêmica extracampo: sua ex-empregada doméstica, Cristina Sinagra, denuncia que Maradona é o pai do filho que ela teve. A paternidade é confirmada posteriormente na justiça. O filho, Diego Sinagra (também conhecido como Diego Armando Maradona Jr.), jamais seria assumido e os dois só teriam seu primeiro encontro em 2003.
Ainda assim, é na temporada 1986–87 que Maradona dá ao Napoli seu primeiro título na Serie A, sobre a poderosa Juventus. A festa termina completa no clube e na vida pessoal: paralelamente, o Napoli é também campeão da Copa da Itália , e nasce sua filha Dalma (batizada com o mesmo nome da mãe de Diego). Na temporada seguinte, Maradona, com quinze gols, alcança a artilharia do campeonato. O vice-artilheiro é a sua dupla ofensiva, o brasileiro Careca  – que fora para a equipe justamente para poder jogar ao lado de Maradona –, com treze. O bi, porém escapa por três pontos: o título fica com o Milan de Marco Van Basten e Ruud Gullit  , que consegue a liderança em vitória direta, em plena Nápoles , quando os dois clubes enfrentaram-se na antepenúltima rodada. O clube rossonero tornar-se-ia o maior rival do Napoli pelos títulos italianos: a Juventus decaía com a aposentadoria de Michel Platini  em 1987 e a Internazionale  vivia certa carência. Na Copa dos Campeões da UEFA  , o Napoli cai cedo: é eliminado pelo Real Madrid , primeiro adversário que enfrenta.
Na temporada 1988–89, o campeonato italiano vai surpreendentemente para a Inter de Milão , com a perseguição única do Napoli (único time na reta final com chances de tirar o título da Inter) terminando em vão. O consolo fica por conta da Copa da UEFA: Maradona lidera o Napoli na campanha rumo ao primeiro título continental do clube. Nos mata-matas finais, o clube passa pela rival Juventuse pelo Bayern Munique   até chegar na decisão, contra o Stuttgart  . Os alemães são vencidos no embalo da dupla de Maradona com Careca: ambos marcam na vitória de virada no jogo de ida, em Nápoles, e seguram o empate na Alemanha Ocidental. Paralelamente, naquele ano ele casa-se em um estádio fechado com a namorada de infância, Claudia Vilafañe, e nasce Gianinna, sua segunda filha.
1989–90 chega e o argentino novamente conduz o Napoli ao scudetto, com dois pontos de vantagem sobre o Milan. Maradona vivia o auge da carreira. A veneração em Nápoles  em torno dele era tamanha que ele sentiu-se à vontade para convocar a população local para torcer pela Argentina , e não pela Itália , na Copa do Mundo de 1990 , a ser realizada em solo italiano em semanas. Gerou enorme polêmica no resto do país, notadamente no norte, região dos times mais tradicionais, ressentidos com o sucesso meteórico do Napoli, que, por sua vez, era um clube de uma região historicamente desfavorecida no país. O presidente da federação italiana chegou a ir a público pedir que os cidadãos napolitanos torcessem pela Azzurra, e pesquisas de opinião foram feitas por jornais e revistas para calcular a que ponto Maradona conseguira influenciar  Nápoles
Cquote1.svg Durante trezentos e sessenta e quatro dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros e, hoje, têm de fazer o que eles querem, torcendo pela seleção italiana. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano"


MARADONA NO NAPOLI em números
Fonte: Quattrotratti
Posição: meia-atacante 
Período em que atuou no clube: 1984-91 
Títulos: Copa do Mundo (1986), Serie A (1986-87 e 1989-90), Coppa Italia (1986-87), Copa Uefa (1988-89) e Supercoppa Italiana (1989-90) 
Prêmios individuais: Guerin d’Oro, futebolista do ano da Serie A (1984-85), Bola de Ouro da Copa do Mundo (1986), Time da Copa do Mundo (1986 e 1990), Jogador do ano World Soccer (1986), Artilheiro da Serie A (1987-88) e Artilheiro da Coppa Italia (1987-88).
Escolha óbvia. Por um valor recorde de transferências à época, Maradona saiu do Barcelona para ser apresentado ao San Paolo lotado. Nos dois primeiros anos, gols, mas apenas a 8ª e a 3ª posições na Serie A. Em 1986, foi campeão mundial e líder da Argentina na Copa. Na volta à Itália, treinado por Ottavio Bianchi e jogando ao lado de Bruno Giordano e Careca, conseguiu levar o Napoli ao seu primeiro scudetto, com uma campanha que o consagrou definitivamente na Itália. No mesmo ano, fez a dobradinha ao levar para os azzurri também ao título da Coppa Italia. A sequência de títulos (ou de disputas, como as que levaram o Napoli ao vice da Serie A em 1988 e 1989) continuou ao longo dos tempos, com Maradona sendo o principal personagem do bicampeonato italiano, em 1990, além de sua única conquista continental, a Copa Uefa de 1989. 
Todas as conquistas e a identificação com a torcida alçaram Maradona a um patamar de deus entre os mortais. A tamanha idolatria dos napolitanos pelo argentino se refletiu na semifinal da Copa de 1990, disputada no San Paolo, quando a torcida local preferiu apoiar El Diez ao invés de torcer pela Itália. O carinho dos torcedores não foi capaz de afastar Dieguito do vício da cocaína e, assim, em 1992 deixou o clube, depois de mais de um ano afastado por doping. Até hoje, o craque é o maior artilheiro da história napolitana, com 115 gols. Como reverência aos serviços prestados, a camisa 10 foi aposentada em 2000 e nunca mais será vestida por outro jogador, afinal, ninguém seria capaz de igualar Maradona no coração dos partenopei.
 

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